terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Nova vida



































Ela acordou de um sono inquieto, não se mexeu e nem abriu os olhos,

continuou imóvel, seus pensamentos anunciavam tempestade.

Descobriu que seu amor (aquele amor que supunha eterno) tinha outra.

Jamais imaginara sentir tamanha dor.

A decepção, a magoa e desapontamento, a feriam qual uma faca afiada,

rasgando devagarzinho seu coração.

Como não percebera?

Estivera sempre tão envolvida com o trabalho, sua casa, a rotina diária,

dedicando-se para que tudo fosse perfeito (como se enganara!)


Desde quando ele não a amava mais?

Começou a lembrar-se de fatos, ocasiões que antes não faziam sentido e agora

estava tudo tão claro!

Ele se afastara aos poucos.

Sempre o amara.

Era seu primeiro e único amor.

Nunca havia passado essa possibilidade em sua cabeça.

Acreditava na fidelidade e no amor eterno, se sentia assim em relação a ele.

Pensou em sair da cama, mas, qualquer movimento era demais para ela,

estava exaurida - sem forças.

A dor a matara por dentro.

Como viveria agora?

Sem sua presença, sem seu amor?

Isso a deixava mais vazia.

Não tinha forças para viver normalmente.

Com esforço tentou se recompor, levantou tomou um banho e foi para a cozinha.

Tomou um café e ficou ali olhando sem nada ver e sem conseguir pensar direito.

Lá fora o vento entoava uma canção avassaladora que lhe falava de trevas

e de um mundo incompreensível para ela.

Uma canção sem luz.

Talvez a sua alma estivesse sendo arrastada para as profundezas da terra e chamava por ela.

Invadiu-a uma enorme saudade de quando ele a abraçava e a acarinhava.

Antes era assim, sentia-se amada, querida e desejada.

Agora tudo tinha mudado.

Nunca mais haveria as noites de amor, as risadas as brincadeiras.

Nunca mais as surpresas fora de hora.

Toda alegria se fora.

O vento continuava a cantar a sua canção, ela ficou atenta as suas palavras.

Palavras estranhas e envolventes, cantada numa língua antiga,

uma língua mágica e hipnótica.


A porta da rua abriu e ele entrou. (Agora um estranho que invadia sua vida )

Nem se deu ao trabalho de se desculpar, pela noite passada fora.

(Não importava).

Ela continuou imóvel no mesmo lugar.

Caminhou até a janela, ficou ouvindo o vento, tentando entender a sua mensagem.

Não conseguia.
Olhou para os lados, para cada objeto que com tanto carinho compraram,

cada um tinha uma história.

Um sorriso repuxou seus lábios ao se lembrar.



Tudo havia ficado lá longe, distante, como a canção do vento.

Necessário seria tomar uma atitude.

A canção agora era outra:

- Falava de recomeço de vida de um novo amor e de Liberdade!

Soltar as amarras e voar, colorir a tela da sua vida.

Há muito que essa tela não recebia as pinceladas vivas da primavera.

Sim, lembrou-se era Primavera, hora de renascer, assim como a fénix,

como diziam os poetas.


Uma borboleta entrou pela janela e pousou em seus cabelos, era o chamado da vida:

- Venha viver!


Como encantada acompanhou o vôo da borboleta e sorriu.


Nunca mais, nunca mais o teria, ele também fez seu vôo borboleta.

Fitou tudo com emoção, mas ali só residia o passado.


Foi até a janela, olhou para trás, talvez numa despedida.

Permitiu que aquela última lágrima rolasse em sua face.


Deixou sobre a mesa a carta – a sua carta de alforria, abriu a porta e partiu.

Lá fora o céu estava lindo e o sol aquecia sua alma com a promessa de Liberdade e de Felicidade.

E o vento que soprava suave lhe dizia:

- Vá viver e ser Feliz!



_Maria Bonfá & Maria Flor_

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