domingo, 9 de dezembro de 2012

Lembranças


















Da janela do seu quarto ela gosta de olhar a vida.


Pouca coisa consegue ver da altura em que se encontra.

Avista uma selva de pedra, prédios que avançam ávidos para o céu,

parecendo que ainda não descobriram onde parar.

Na avenida que nunca dorme, carros e caminhões apressados,

cortado as vezes pelo som de uma ambulância,

rasgando tudo com seu grito angustiante.

Vida que tem pressa, mas pressa para que?

Um mundo de pressa para ir e para vir. .todos agitados, nervosos.

Olha para um quarto que não é o seu.

Sente-se uma hospede que ainda não se instalou.

Lembra com saudade de sua cidade no interior,

lá a vida passa devagar, num marasmo as vezes irritante.

Todos se conhecem, ninguém tem pressa.

Sempre há tempo para o sorvete tão gostoso lá da esquina,

o cheiro do pão quentinho logo pela manhã.


Amava sua casa, lembra dos detalhes de cada objeto com carinho.

Tivera que se desfazer de tudo, tantas lembranças,

tantas histórias deixadas para traz ..

e sua companheirínha?

- Uma fox que era sua paixão, também se fora,

deixara um vazio enorme em seu coração.

Lembrou-se "Dele", um sorriso de ternura deu vida a seu rosto.

Fora tão louca, tão insensata

O conhecera de uma maneira inesperada:

- Num sábado a tarde saiu para fazer compras, estava cansada,

supermercado cheio, um calor insuportável,

detestava fazer as compras do mês.

Aquele barulho, a agitação a deixavam cansada e com dor de cabeça.

Depois de uma fila interminável no caixa,

lembrou-se que esquecera de comprar um queijo.

- Que droga pensara!

Voltou novamente para a fila, e viu que um homem a olhava .

Ficou em duvida se era para ela mesmo.

Olhou dos lados e teve a confirmação.

Sorriu de volta toda ruborizada.

Mas gostou da sensação de estar sendo admirada,

ou talvez até desejada.

Quando saiu dali, ele a seguiu de carro, conversaram e descobriram

tantas coisas em comum!

Trocaram telefone, ela saiu dali com o coração aos pulos,

sentia-se novamente uma menina,

nem se lembrava mais dessa sensação de estar sendo desejada.

Esperou com ansiedade pelo telefonema.

Quando o primeiro telefonema aconteceu,

sentiu uma alegria que mal disfarçava.

Começaram a se falar todos os dias por telefone,

passou a viver esperando por aqueles momentos,

um falar sussurrado.

As mãos trêmulas, coração disparado.

Seus olhos agora brilhavam, sorria sempre,

sentia-se feliz como nunca imaginava ser possível

Às vezes sentia medo de tanta felicidade.

Mas logo esquecia e sonhava.

Apaixonou-se de uma forma louca e devastadora.

Ah! E o primeiro encontro!

Os dois ficaram tímidos, quase sem saber como agir.

E veio o primeiro beijo, foi como se tivesse sido atingida

por uma descarga elétrica.

Fazia tanto tempo que não sentia o prazer de um beijo,

a delicia do toque das mãos dele traçando caminhos pelo seu corpo.

Queria mais e mais.

Quando ele adormecia, ela ficava a olhar seu rosto, seu corpo,

memorizava os detalhes,

cada traço, cada marquinha.

Amava aquela boca que a fazia sentir tocando o céu.

Sentia um prazer indescritível em seus braços.

Não conseguia pensar em mais nada.

Sua vida era ele.

Era só uma aventura para ele, nada mais, sabia disso.

Ela não.

O amava verdadeiramente, amava cada gesto, cada sorriso,

o seu cheiro, seu gosto, seu toque!

Quando foi que ele começou a mudar?

Não percebeu logo.

Ele começou a ficar distante, se ausentando aos poucos até dizer-lhe

que estava tudo acabado.

-Como viver sem ele?

Desesperou-se.

Não conseguia imaginar a vida sem ele.

Quase morreu de dor.

Uma despedida sofrida, uma dor lancinante a machucava.

Implorou para não deixá-la.

Humilhou-se, mas ele foi irredutível.

Sentiu que naquele dia uma parte dela morrera

e dera lugar a uma outra pessoa,

uma mulher apagada e triste. . .

Agora nessa nova vida, distante de tudo, longe do seu amor,

pensa que nunca mais sorrirá como antes.

Ninguém vive pela metade (Mas ela já era só uma metade fazia tanto tempo!)

Ainda liga para ele, só para ouvir sua voz e desliga sem dizer nada.

Hoje seu riso é só um leve sorriso que nunca aquece seu coração.

Seu olhar é triste, sem vida.

Se pudesse voltar atrás faria tudo de novo.

Queria voltar a sentir aquela alegria, aquele amor que foi vida, alegria.

Mas como tudo na vida passa o amor dele também passou.

Mas valeu a pena.

É melhor sentir saudade do que nunca ter amado



Maria Bonfá





















2 comentários:

chica disse...

Tu escreves maravilhosamente e fico imaginando tudo,tão lindamente descrito!

Adorei te ler! Valeu a pena!!

beijos,tudo de bom , chica

BLOGZOOM disse...

Querida Maria,

Felizmente nunca sofri muito tempo por nenhuma suspeita de amor vivido. Apenas, por poucos, algumas lágrimas, tenho um enorme poder de me refazer por completo e dentro de um tempo razoável. As lágrimas servem para lavar a alma.

Beijos